AVENTURA»» Nuno Pereira já está no mar - JORNAL DE DESPORTO

Última hora...

domingo, 1 de junho de 2014

AVENTURA»» Nuno Pereira já está no mar

Viagem de 3.525 km terá a duração de 120 dias, 96 dos quais dentro de água

Saiu do Seixal para uma expedição
à volta da Península Ibérica em kayak


O momento em que Nuno Pereira partiu para a Volta Ibérica, em kayak mar
Sábado, 31 de Maio de 2014, 16 horas, 28 minutos e 23 segundos foi este o momento exacto em que Nuno Pereira deu início no Seixal à aventura de percorrer 3525km numa expedição de circum-navegação em kayak de mar à volta da Península Ibéria que terá a duração de 120 dias, 96 dos quais passados sozinho no mar.
Depois da saída do Seixal, Nuno Pereira entrou no estuário do Tejo em direcção a Cacilhas, Trafaria, Cova do Vapor, Costa de Caparica, Cabo Espichel, Sesimbra, Arrábida, Comporta e Sines, seguindo em direcção ao sul do país fazendo depois toda a costa algarvia e espanhola para subir o Mediterrâneo até Cerbère/ França. Aí, será feita a transição do kayak para Hondarribia, para dar continuidade à segunda fase da aventura que percorrerá toda a costa norte de Espanha e Portugal até ao mesmo local da partida no Seixal que deverá ser atingido no final do mês de Setembro.

O JORNAL DE DESPORTO, que esteve presente no local, falou com Nuno Pereira momentos antes de colocar o kayak no mar, enquanto ultimava os preparativos para a longa viagem. À partida foram muitos os aplausos de incentivo mas isso não fez esquecer as muitas dificuldades que sentiu para angariar os apoios mínimos necessários para o desenvolvimento do projecto que ainda não está totalmente suportado. Nuno Pereira confessou à nossa reportagem que estava algo ansioso mas ao mesmo tempo confiante na concretização do objectivo.

O gosto pelo mar, pelo desafio, pelo desporto e pela natureza

As primeiras pagaiadas após o momento de partida...
Este é um projecto bastante arrojado porque vai andar sozinho no mar praticamente quatro meses!
É o gosto pelo mar, a aventura e o desafio. O estar sozinho não quer dizer que seja um problema. Uma das regras do kayak mar é estar no mínimo três pessoas mas quando os perigos existem cada um tenta resolvê-los por si, porque pouco mais até é benéfico porque permite desfrutar da natureza.

Estamos uns minutos antes da partida. Como se sente nesta altura?
Noutras partidas semelhantes nunca estive nervoso mas desta vez [não quer dizer que esteja nervoso] mas sinto alguma ansiedade. Admito que sim.

Porquê, porque é uma prova muito longa?
Devido talvez à rotina do dia-a-dia. Vai demorar algum tempo [provavelmente uma ou duas semanas] a ambientar-nos. Quando se chega a terra tem que haver muito tempo de dedicação tendo em vista a recuperação e a preparação de tudo o que é preciso para o dia seguinte. Se for preciso chego a terra às 16 ou 18 horas e somente às 21 ou 22 horas vou descansar para depois no dia a seguir acordar cedo e enfrentar uma nova etapa.

O que faz um homem andar tanto tempo sozinho no mar?
O gosto pelo mar, pelo desafio, pelo desporto [que é uma coisa que sempre fiz] e também o gosto pela natureza. Acaba também por ser um desafio pessoal. Vamos ver até onde consigo ter a força psicológica necessária para vencer o desafio.

Foi ciclista profissional. O que é mais difícil, ser ciclista ao mais alto nível ou fazer uma expedição deste género?
Ser ciclista, sem dúvida. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Uma expedição deste género requer muita força psicológica e muita capacidade para superar certas situações que são únicas e torna tudo mais atractivo e também porque existe o desafio de nos superarmos a nós próprios. O ciclismo é mais duro, talvez mesmo o desporto mais duro do mundo.

Falta de apoios atrasaram partida

Nuno Pereira lamenta falta de apoios
A expedição esteve par arrancar no dia 3 de Maio mas só arrancou no dia 31. Porquê?
O adiamento poderá não ser benéfico porque corro o risco de me atrasar e chegar já no Outono quando as condições do mar são mais adversas e assim não conseguir concretizar o projecto, devido a isso. O atraso ficou a dever-se à falta de patrocínios e da verba necessária para conseguir concretizar o projecto. Eles ainda não existem na totalidade mas vamos tentar levar a aventura até ao final, mesmo com o pouco orçamento que temos e ao mesmo tempo continuar a procurar mais qualquer coisa. Se aparecer será juntar o útil ao agradável, se não aparecer vamos até onde conseguirmos. Este desafio acaba por ser um conjunto de coisas que não têm só a ver com a expedição. Se eu não tiver dinheiro para comprar comida, para alimentar os meus sistemas de segurança e comunicação [que gastam energia], o projecto começa a deixar de ser aquilo que é, e assim não vale a pena continuar.

Surgiram alguns apoios mas não os suficientes, é isso?
Exactamente. Infelizmente não consegui. Em termos de equipamentos sim e estou muito grato aos patrocinadores que tenho, mas em termos monetários não. Houve contactos com grandes empresas e grupos financeiros que mostraram alguma abertura mas as respostas nunca foram positivas.

A nível oficial também não surgiram apoios?
Não fui muito à procura disso. Mas, é possível que ainda venha a ter a alguns de entidades que por enquanto não quero identificar. Se me quiserem apoiar e alguns já disseram que sim, como é o caso do meu clube [o Nabância] fico satisfeito mas não ando à procura disso. Ando sim à procura de uma empresa que me queira ver como atleta e apoiar nas expedições. Se não conseguir corro o risco de não continuar e então passarei a dedicar-me mais ao desporto de fim-de-semana ou de turismo.

Projecto para concretizar

É neste kayak que Nuno Pereira vai andar 96 dias no mar...
Apesar deste contratempo, está confiante?
Claro que sim, senão não valia a pena estar hoje aqui a dar início à partida. Mas, o projecto é muito grande, são quatro meses cheios de emoção e muitas situações para gerir. Irei viver um dia de cada vez, superar todos os dias um dia, fazer uma grande prevenção sobre o dia que vem a seguir, fazer uma avaliação muito grande daquilo que vai ser o mar e de tudo o que é preciso fazer. Eu não conheço toda costa espanhola e é preciso escolher bem o local onde se vai parar, ver se é seguro e se tem uma zona onde posso reabastecer de água e alimentos. Mas, de qualquer forma é um projecto para concretizar e eu estou com esperança de o conseguir.

E vai ter alguém em terra a apoiá-lo?
Não. O pouco apoio que existe é de alguns curiosos, de amigos, dos que aparecem para dar uma ajuda, os seguidores e os fãs. Nesta primeira semana está previsto um colega da minha equipa dar algum apoio pela costa portuguesa mas depois todo o projecto é para fazer a solo. Depois, existem os elementos da equipa que estão por cá e que vão dando o apoio logístico que conseguem através da internet e outras comunicações, mas não passa disso. Eu, estarei sozinho no mar.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Post Bottom Ad

Responsive Ads Here